Por Bloomberg
São Paulo - Em uma sala lotada em Lisboa, no mês passado, caçadores de pechinchas aguardavam o início de um leilão de propriedades. Um idioma dominava as conversas: o mandarim.
Cerca de 90% dos lances pelos
apartamentos e lojas do governo em oferta foram feitos por chineses,
segundo Jorge Oliveira, funcionário responsável pela venda de ativos.
Eles acabaram adquirindo mais de dois terços das 45 propriedades, disse
ele.
“Um investidor português comprou uma
loja para montar uma padaria e uma cafeteria, mas a maior parte foi para
os chineses”, disse Oliveira, em entrevista, após a venda.
Portugal é o alvo mais recente dos investidores chineses, que
vêm adquirindo edifícios ao redor do mundo, aproveitando que a China
está permitindo um movimento mais livre de fundos dentro e fora do país.
Os chineses responderam por quase uma em cada cinco propriedades
adquiridas por estrangeiros em Portugal durante os nove primeiros meses
do ano, segundo a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação
Imobiliária de Portugal, com sede em Lisboa.
Bing Wong, de 52 anos, um dono de
imóveis de Xangai que participou do leilão de 24 de outubro, vem
comprando propriedades em Lisboa para criar uma rede de lojas com o
objetivo de atender a maior concentração de chineses residentes em
Portugal.
“Lisboa é barata se comparada com
outras cidades”, disse ele. “A economia está melhorando e há alguns bons
negócios para fazer por aqui”.
As lojas da Rua Bond, em Londres, são
cerca de 25 vezes mais caras do que estabelecimentos equivalentes de
áreas comerciais centrais de Lisboa como Chiado ou Avenida da Liberdade,
segundo Darren Yates, chefe de pesquisa de mercados globais de capitais
da Knight Frank, em Londres. Os aluguéis da rua Bond custam cerca de
10.000 euros (US$ 12.600) por metro quadrado, cerca de 10 vezes mais que
o custo para alugar um espaço comercial de alto padrão em Lisboa, disse
Yates.
O investimento em propriedades
comerciais em Portugal subirá para 800 milhões de euros neste ano,
contra 322 milhões de euros em 2013, segundo a corretora Cushman
Wakefield.
Portugal está saindo lentamente de um
período de três anos de austeridade após encerrar, em maio, um programa
de resgate de três anos. A capital está pavimentando o caminho, enquanto
uma explosão do turismo fornece o dinheiro - e um incentivo extra -
para a renovação de quarteirões inteiros de edifícios que estavam em
decadência.
Para os compradores de fora da União
Europeia também existe a perspectiva de se conseguir um visto. Os
investidores chineses são os principais beneficiários do programa de
vistos em troca de propriedades de Portugal, que permite a quem adquire
imóveis avaliados em 500.000 euros ou mais morar no país e viajar
livremente pela UE.
Os formuladores de políticas da China
tornaram mais fácil para os investidores a transferência de dinheiro
para dentro e para fora do país, em uma tentativa de ampliar a estatura
global do yuan. Embora os chineses ricos adquiram imóveis caros há anos
em mercados como Nova York, Londres, Sydney e Vancouver, as novas
medidas incentivaram investidores individuais e suas famílias a
comprarem propriedades em mercados como Portugal, onde há uma
concorrência menor pelos ativos.
Os ofertantes chineses poderão
continuar parabenizando uns aos outros pelas compras por algum tempo, a
menos que a recuperação de Portugal comece a ganhar força. Com uma taxa
de desemprego de 13,9% e anos de aumentos tributários, a maior parte dos
investidores locais é incapaz de superar as ofertas de seus colegas
chineses.
“É óbvio que os portugueses não podem
competir com os investidores chineses nesses leilões, porque eles não
têm dinheiro disponível para gastar”, disse Nuno Durão, chefe da empresa
imobiliária Fine Country, especializada na venda de imóveis
residenciais de luxo. “As salas de leilões de propriedades de Lisboa
estariam vazias se não fossem os compradores estrangeiros”.
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